No Dia Nacional da Poesia homenageio a nossa grande Eneida.
Na
linha de escrever poesia, quase todo mundo já “cometeu” a sua. Para qualquer
ocasião e em qualquer estado de espírito. Sem ser poeta (ou como diz o
dicionário, poetisa) eu também já “cometi” alguns versos que na época, o
saudoso editor geral deste jornal, Dr. Claudio Sá Leal publicou em uma página
criada por ele, aos domingos, sendo posteriormente administrada pelo colega
João Carlos Pereira. Mas sempre amei a poesia e principalmente aquelas que
tocam mais o sentimento, com rima ou não. Sim, porque a rima
define para muitos o sentido do poético, haja vista ser um dos elementos mais
conhecidos da poesia. Trata-se “da repetição de sons iguais ou similares ao
final dos versos que compõem um poema”. Não sou versada nos estudos dos tipos
ou na composição da poesia. Mas sem dúvida considero-a, como refere a história
desse gênero de escrita, uma das artes tradicionais que utilizam a linguagem
humana de forma estética, revelando o interior e o exterior do seu criador,
projetando isso a/ao leitor/a. O termo poesia vem do grego e significa criação
ou fabricação, mas o usual é o reconhecimento de que ela constitui a arte de
escrever em versos. Na contemporaneidade outras definições são registradas, mas
me atenho ao que espero abordar.
No
dia de hoje, 14 de março, registra-se o Dia Nacional da Poesia homenageando o
nascimento de um dos maiores poetas românticos brasileiros, o baiano de
Curralinho (hoje cidade Castro Alves), Antonio Frederico de Castro Alves
(1847-1861), falecido aos 24 anos, autor de outros poemas, sendo o mais
conhecido “O Navio Negreiro” (1869) onde tematiza a escravidão negra, destarte,
um grande defensor do abolicionismo.
É
possivel que outros leitores/as conheçam mais o 21 de março como o Dia
Internacional da Poesia,
instituída pela UNESCO - Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – cujo objetivo
é a difusão e valorização da arte poética, querendo ou não alguns uma área que
já foi muito mais prestigiada socialmente em tempos pretéritos (é só lembrar os
saraus promovidos por intelectuais de uma classe social onde estavam sempre
inscritas na programação, as declamações e o lançamento em récitas de poemas dos
autores dessa arte).
Da
pesquisa para registrar este tema, lembrei-me das mulheres poetas haja vista
que a história evidencia o fato de que muitas jovens se escondiam em pseudônimos
para publicar suas criações nessa área registrando seus sentimentos dedicados
muitas vezes a alguém que não poderia ser reconhecido pelas famílias.
Examinando
a imprensa local da última década do século XIX e início do XX (1890, 1900),
observei, em alguns jornais (“A República” e “O Democrata”) que as paraenses
não se furtavam a publicar suas criações poéticas. Uma destas achei fantástica,
assinada por Francelina Gomes (Diário de Notícias, Belém, 19 ago. 1897, p. 1-
pseudônimo?), demonstrando que a exposição dos sentimentos femininos estáva
deixando o espaço íntimo dos "diários", das memórias, do "dizer
entre as paredes das alcovas" e alcançando a rua. Intitula-se “Rimas
Velha”(sic): “Neste retiro em que vivo/sonhando com coisas mansas/da vida
sempre me esquivo/como da escola as crianças./Gozo mais neste degredo/ nesta
vivenda escondida/onde não tenho segredo/nenhuma queixa sentida. Nestes bosques
verdejantes/ alcatifados de flores,/só moram ternos amantes/que vivem rimando
amores. Há ninhos pelo arvoredo,/que se balançam frementes/onde os plumosos a
medo/ entoam canções dolentes (...)
Outra
referência poética como identificação de registro amoroso subjaz nas
entrelinhas de um diminuto texto, com a ausência do nome por extenso, do par: "Ao
jovem A.F.R. - Ao primeiro sorriso da alvorada de hoje sentirás sobre a tua
fronte o estalido suavíssimo de um beijo. Traduz esse ósculo sincero a mais
acrisolada saudação do teu feliz aniversário natalício. É tudo quanto pode
oferecer-te neste dia repleta de prazer a alma de tua afetuosa. C.M." (A
República, Belém, 1º mar. 1894, p. 1).
São
mulheres de ontem que se fizeram poetas e publicaram suas criações. Talvez não
sejam tratadas e/ou consideradas nos padrões clássicos das métricas exigidas
pelo cânone, mas estavam presentes com sua emotividade e sua linguagem própria
dessa arte.
No Brasil,
nomes como Gregório de
Matos, Tomás Antônio
Gonzaga, Olavo Bilac,
Cruz e Sousa,
Oswald de
Andrade, Carlos
Drummond de Andrade, Cecília Meireles,
Manuel Bandeira e Vinícius de
Moraes, além de outros mais próximos deste tempo de poesia “cíbrida”
(híbrido e cibernético, segundo o professor Jorge Luis Antonio) já se
inscreveram no pódio e de lá não saem, mantendo sua obra perene. Temos os
nossos paraenses já imortalizados no solo amazônico como: Eneida, Adalcinda Camarão, Olga Savary,
Antônio Juraci Siqueira, Antônio Távernard, Benedicto Monteiro, Bruno de Menezes, Edyr de
Paiva Proença, João de Jesus Paes Loureiro, José Ildone Soeiro, Max Martins,
Rodrigues Pinagé, Age de Carvalho, Ruy e Paulo André Barata etc.
Na
história da poesia brasileira, se não há o registro de muitas mulheres, há muitos
motivos entre os quais a valorização maior de pesquisas sobre os poetas. Por
isso, lembro hoje as nossas pioneiras, como a inconfidente Barbara Heliodora (1759-1819), a primeira mulher poeta do Brasil; a maranhense Maria
Firmina dos Reis (1825-1917), a primeira poeta negra e a primeira a
aventurar-se pelos domínios da ficção literária; Auta de Souza
(1876-1901) ombreia-se ao pioneirismo de Maria Firmina. A potiguar Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885) e
Patrícia
Galvão, a Pagu entre tantas.
A colega
Eunice Ferreira dos Santos sentindo a necessidade de visibilizar nossas poetas
e escritoras criou, em agosto de 2007, a Casa da Escritora Paraense – CASAEPA,
um projeto cultural do GEPEM/UFPA. Há um acervo de 2.340 exemplares fac-similados
e 6.095 em CD. Um passo que espera demonstrar a celebração da arte poética das
paraenses.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" de 14/03/2014)
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