http://histblog.blog.uol.com.br/ - Mulheres & a educação no Brasil
A
cada ano, desde que as filhas cresceram, o processo da educação formal se
tornou para mim uma preocupação familiar, ao lado da saúde e da formação moral.
O seguimento das normas que em cada período se instauravam nos colégios onde
estudavam desde que a idade se configurasse nos padrões da compreensão e do
aprendizado fazia parte desse procedimento que se tornava vinculado ao exigido
formalmente. O acompanhamento desse processo estudantil atingia o ensino
superior e então, criava-se um novo posicionamento para as áreas de
conhecimento que cada uma delas elegia como sua linha de identificação com a
práxis profissional. A entrada na carreira universitária exigia uma prova de
qualificação para avaliar o nível de entendimento e formação para o acesso a
esse novo estágio de aprendizagem. Era o vestibular. Em anos seguidos êxitos
foram alcançados e as jovens se tornaram profissionais em cada eixo de
conhecimento. Presentemente, a nova geração, no caso, os netos e netas passaram
a ser parte dessa população que aspira alcançar um curso superior, ontem
somente à escola pública, hoje proliferando o ensino superior privado.
Historicamente,
esse processo seletivo foi marcado não só para abranger a ascensão
universitária, mas em confirmação aos níveis interescolares de alunos/as
interessados em transferir-se de escola. No meu caso particular, na década de
cinquenta, saindo de uma cidade para a capital em busca de continuar os estudos
(curso elementar para o ginasial ou médio, hoje) havia o célebre exame de
admissão ao ginásio, que também era uma prática a que se submetiam os/as alunos
e alunas concluintes da 5ª série primária e pretendiam seguir seus estudos. No
meu caso e de muitos/as da minha geração, a cidade de Abaetetuba não possuía
nenhuma escola que ministrasse o curso ginasial e a decisão familiar (conforme
os recursos financeiros e/ou a possibilidade de moradia na capital, diga-se)
era participar desse exame seletivo e classificatório para a ascensão escolar
em Belém. No prosseguimento dos estudos em cursos como o pedagógico (não havia
seleção ao Técnico e nem ao Científico) havia uma nova prova, agora chamada de
vestibular, para a certificação de seleção na área escolhida. O exame de
admissão ao ginásio e o vestibular para o Curso Pedagógico foram realizados no
Colégio Santa Rosa, permanecendo por lá os sete anos de estudos preparatórios
para um novo curso, no caso, o universitário, ao qual só depois de doze anos
foi possível realizar. Para cursar o mestrado e o doutorado (cada momento
desses em estágios de vida diferentes) outro tanto de provas de seleção e
verificação de conhecimento e competência se tornaram as novas formas de
ingresso no nível de pós-graduação e, também, contribuíram para a ascensão
funcional na área profissional.
O
que me levou a avaliar os caminhos já percorridos ao longo da vida considerando
as decisões para o aprendizado além-fronteiras femininas e esforço em conhecer
mais além do que me reservavam a situação de gênero e de geração, foi
intencionar refletir sobre como se estabeleceram muitos indicadores que hoje se
observam para a escalada universitária.
Segundo
alguns historiadores foi o sistema Baccalauréat, assinado por Napoleão
Bonaparte, em Decreto de 17 de março de 1808, que iniciou esse sistema com
vistas ao ingresso de estudantes franceses e internacionais na educação
superior, ao final do liceu (segundo grau e profissionalizante). Foi assumido,
posteriormente, pelo Reino Unido, Alemanha, Portugal e demais países. No
Brasil, o Decreto N. 8.659 - de 5 de abril de 1911, mais conhecido como Decreto
Rivadávia (da Cunha Corrêa, o Ministro de Estado da Justiça e Negócios
Interiores do Presidente Hermes da Fonseca) aprovou a Lei Orgânica Superior e
do Ensino Fundamental na Republica.
O
Art. 65 desse decreto considera: “Para concessão da matricula, o candidato
passará por exame que habilite a um juizo de conjuncto sobre o seu
desenvolvimento intellectual e capacidade para emprehender efficazmente o
estudo das materias que constituem o ensino da faculdade.” Nos parágrafos 1º e
2º constam o modo de aplicação e a indicação da comissão responsável pela
elaboração e fiscalização desse exame.
Esse
decreto continha 140 artigos registrando os seguintes itens: “Organização do
ensino - Autonomia didactica e administrativa - Institutos de ensino
superior e fundamental - O Conselho Superior do Ensino - O patrimonio, sua
constituição e applicação.”
Se
o esforço político aos exames de acesso ao ensino superior evidenciava a
formação do alunado de um modo geral, nessa fase já estavam incluindo as
mulheres que não integravam desde o início a massa escolar. Veja-se, por
exemplo, datas históricas que marcam a entrada desse gênero nas reivindicações
pela inclusão à educação: no século XVIII, na Inglaterra, a escritora britânica
Mary Wollstonecraft lança o seu “A Vindication of the Rights of Woman”
(Reivindicação dos Direitos da Mulher) onde ela defende a educação para as
meninas e jovens como meio de aproveitamento de seu potencial humano. Isso
prova a deficiência do número de mulheres nas escolas devido a essas regras. E
no Brasil, só em 1827 vai surgir a primeira lei sobre a educação das mulheres,
permitindo às brasileiras a frequência às escolas elementares visto que as
instituições de ensino mais adiantado lhes eram proibidas.
Entre
a permissão aos estágios escolares via exames e as leis de concessão à educação
evidencia-se um formato elitista na história dessa área de conhecimentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário