O
mundo passa por muitas mudanças em um ano e, ao contabilizá-las, sofre-se um
impacto ao constatar o que a ciência é capaz de fazer e/ou o que é possivel
traduzir em análises quanto a notícias de alterações em determinadas situações
que supomos impossíveis de ocorrer. O corre-corre diário não nos deixa tempo
para avaliar quantas coisas boas aconteceram, pois, o noticiário da mídia
reserva mais tempo para as situações de calamidade, sinistros que infundem medo
de viver, ou acontecimentos que são dados como tragédias, algumas extraidas de
fatos não tão sinistros. Certa vez cheguei ao RJ tão amedrontada que meu irmão Coriolano
que mora por lá há quase 40 anos me disse que devido às noticias veiculadas
sobre a violência urbana a “cara” da cidade se transforma, para o mundo, num
gueto de horror onde só é possivel ver atos bárbaros. Há violência? Sim. É
possivel viver na cidade? Sim. E nós, paraenses, perguntamos: o que dizem de
nós por ai quando em meio a tantas situações favoráveis a mídia nacional foca
apenas num episódio sinistro? Meu colega Cauby Monteiro residiu com a família
quase 8 anos em São Paulo. Ao retornar a Belém, na primeira semana em que
estava organizando a vida, ao trafegar na Doca, foi assaltado por cinco
pessoas, entre as quais uma mulher. Essas assertivas demonstram que São Paulo e
RJ são vistos com uma carga de violência maior do que aqui, mas foi nesta
cidade que meu amigo foi atacado na via pública.
Vê-se
então que há um noticiário ameaçador recorrente na mídia. Por outro lado, há casos
aos quais não é dada tanta evidência. Este ano de 2013 foi marcado por grandes
descobertas no campo da pesquisa científica em laboratório, possibilitando um
futuro melhor para a humanidade. A revista "Science" (https://www.sciencemag.org/) escolheu
como o maior avanço científico do ano o uso da imunoterapia contra o câncer. Tema
pesquisado desde a década de 1980, entre êxitos e desacertos, os resultados atuais
foram satisfatórios: cerca de mil e oitocentos pacientes com cancer de pele
(melanoma), ou seja, 22% dos pacientes que usaram a droga desenvolvida
por certa empresa continuavam vivos após três anos de terapia.
Para os infectados com a AIDs também foi promissor
o ano de 2013. Em março, uma equipe de virologistas norte-americanos anunciou o
primeiro caso de cura “funcional” da doença, quer dizer, constataram debilidade
no vírus a ponto de o organismo do paciente conseguir controlá-lo sozinho. A
evidência foi com uma criança nascida de mãe infectada que recebeu remédios em
menos de 30 horas após o parto.
Outra doença que está na vez da cura é o mal de Alzheimer. Segundo anúncio em outubro,
cientistas britânicos realizando pesquisas em camundongos consideraram a
primeira substância quimíca vir a evitar a morte do tecido cerebral nessa doença
responsável pela degeneração de neurônios. Maior investigação para o desenvolvimento
de uma droga capaz de ser usada por doentes ainda está em processo, contudo, há
muito otimismo para a consecução da mesma. Outro fato constatado é em relação a
pesquisas com possibilidade de diagnosticar essa doença de forma mais simples, “através
da análise de células da retina ou de estruturas do sangue”.
A Síndrome de
Down está na vez das pesquisas e neste ano de 2013, em julho, a revista "Nature” (http://www.nature.com/, uma das mais antigas
revistas científicas do mundo – 1869) publicou estudo sobre o método de silenciar a cópia extra do cromossomo
21 responsável pela síndrome. Feita em laboratório com células-tronco, a
pesquisa evidenciou que “um cromossomo 21 extra, além dos dois que todos nós
carregamos, pode ser suprimido em células em cultura in vitro”. Embora uma
notícia promissora, há certa prudencia dos cientistas alertando sobre se essa
técnica poderá ser aplicada em humanos.
Aguardemos, então que a ciência traga beneficios à
humanidade e se possa constatar a eficácia desses estudos.
Mas outras notícias são muito interessantes em
termos de mudança de comportamento. No Brasil, o número de idosos
que moram sozinhos triplicou em 20 anos, segundo o PNAD (Pesquisa Nacional por
Amostra em Domicilio- IBGE). Os dados revelam que se em 1992, havia 1.17 milhão
de idosos nessa condição, sendo 31,4% de homens em média de 70 anos e 68,6 %
mulheres de 71 anos, em 2012 já são 3.70 milhão sendo 34.9% homens na mesma
faixa de idade e 65% de mulheres na média de 72 anos a viverem sozinhos. Se os
analistas avaliam ser esse um episódio de feminização do envelhecimento, considerando
o índice maior de mulheres (30% em relação aos homens) que moram sozinhas, vê-se
que entre os homens houve um aumento de 3.5% e uma queda de 3.6% em relação ás mulheres entre
1994 e 2012. Alexandre Kalache que já dirigiu o programa de envelhecimento da
Organização Mundial da Saúde e atualmente preside o Centro Internacional de
Longevidade diz sobre as mulheres: "Em geral, elas já criaram os filhos,
estão viúvas ou separadas e querem manter autonomia". Marília Berzins, doutora
em Saúde Pública pela USP e presidente do Observatório da Longevidade,
considera que essas mudanças integradas ao aumento da longevidade “têm levado
as pessoas a ver com mais naturalidade a decisão de um idoso morar sozinho”.
Entre avanços da medicina e os novos comportamentos
dos atores sociais, o momento reserva significativas reformas sociais para os
próximos anos. Feliz 2014!
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" de 27/12/2013)