No último dia 11/09, o mundo todo relembrou o 10° aniversário do maior atentado terrorista da história, o do choque dos aviões com as torres gêmeas do World Trade Center, em NY. Houve, contudo, quase nenhuma referência à gênese da tragédia (como meio de contextualização). Ou seja, por que os terroristas ligados ao grupo Al Qaeda – responsáveis pelo fato - odeiam tanto os EUA a ponto de sacrificar tantas pessoas inocentes, sem mesmo uma opinião política sobre conflitos ideológicos ou religiosos?
Desde o final da 2ª Guerra Mundial existe um sentimento antiamericano. E não é restrito a um país ou um hemisfério. Além dos derrotados no conflito, o advento da chamada “guerra fria”, com os soviéticos propagando a diferença ideológica num plano teórico: o sistema capitalista teria os EUA como bandeira, representando o contrário aos preceitos básicos do Manifesto Comunista, realçando-se a exploração do trabalhador, e foi situado, com ênfase, na filosofia norte-americana de governo. O eco nos países ditos subdesenvolvidos foi imenso e a prova disso foram diversos movimentos revolucionários, alguns, curiosamente, ajudados em seu início pelo próprio EUA (por exemplo, os casos do Afeganistão e de Cuba).
Imbuídos de um sectarismo ilustrado em diversos discursos, como o do general Patton, no fim da guerra (“Americanos jogam para vencer o tempo todo”), os norte-americanos passaram a adotar uma postura de mando que logo se rotulou de imperialismo. A expansão industrial e cultural (sendo um dos pilares, principalmente, o cinema) chegou ao mundo como o figurino do que “dá certo”.
Nesse patamar da História cabe a entrada do grupo Al Qaeda. O seu embrião foi a Maktab al-Khadamat (MAK), organização formada por Mujahidin que lutava para instalar um estado islâmico durante a campanha soviética no Afeganistão (1980). Para expulsar os russos invasores este solicitou ajuda aos EUA. E deu certo: o país foi liberto, mas as tropas norte-americanas não deixaram o país. Houve, na época, um pedido de Osama bin Laden, líder do movimento, ao rei saudita, alegando a necessidade de um estado islâmico. Mas o rei recusou a oferta e deixou que os norte-americanos ficassem no território. Laden achou isso uma afronta, acusando a intervenção infiel à “terra das duas mesquitas” (Meca e Medina). Essa atitude provocou o seu exílio tendo a sua cidadania saudita revogada. Daí em diante teve início o movimento que adotaria o nome de Al Qaeda e que visava (como ainda hoje visa) a hegemonia de uma terra islâmica.
Os principais inimigos da Al Qaeda seriam os EUA e Israel, este evidente na luta pelo domínio do território palestino. E o atentado ao World Trade Center representou um ataque ao “coração do sistema”, um ícone do mundo capitalista.
O ataque de 11 de setembro de 2001 marcou a história americana. Mas a sua imagem de catástrofe não ficou no dia e hora da explosão dos prédios com a morte de milhares de pessoas. Ainda viriam os problemas econômicos. O abalo repercutiu na Bolsa de Nova York que fechou pela primeira vez desde a 2ª Guerra. Nos dias posteriores ao infausto, o governo injetou US$ 300 bilhões no mercado financeiro para evitar uma crise. Em seguida, liberou recursos para a reconstrução e gastos militares (começara a guerra no Afeganistão). Ainda sem boa resposta de investidores, o governo estimulou a política de ajuda na compra da casa própria baixando os juros. “Era um mercado estrangulado” diz o economista inglês Richard Youngs, da Universidade de Warwick. “Os bancos emprestavam mais dinheiro para as imobiliárias evitando que chegasse uma recessão”. Mas quem recebia crédito acabou não pagando. E as empresas bancárias, ao revender a financiamentos (uns a outros) levaram “à uma reação em cadeia que fez vários bancos quebrarem provocando uma crise financeira que abalou o mundo em 2008/2009”.
O economista Simão Davi Silber, da Universidade de S. Paulo, disse a propósito: “A crise imobiliária só surgiu porque havia crédito em excesso e um espírito de reconstrução dos EUA. Fazia todo sentido responder à barbárie terrorista com uma era de crescimento”. Mas os acontecimentos levaram a medidas de proteção exacerbadas que ainda hoje persistem (como, por exemplo, a revista aos passageiros nos aeroportos). E a um fato que alguns observadores constataram: o aumento da criminalidade nas metrópoles por conta do “abandono de programas de combate ao crime”, disse William Bratton, consultor de segurança e ex-policial. E acrescentou: “Muitas delegacias sofreram cortes bruscos no orçamento e o número de policiais na rua caiu”. Subiram as estatísticas de crime nas ruas.
Desde a queda da Bolsa norte-americana em 1929, ou seja, 10 anos antes do inicio da 2ª Guerra e 12 da entrada dos EUA no conflito, a economia ocidental passa a sentir abalos quando algo de grave acontece num país considerado economicamente forte. O que hoje se conhece por globalização é cada vez mais evidente em escala planetária. Por isso, o drama da America do Norte atinge a nós, da America do Sul. E sente-se que o Brasil está conseguindo escapar do “tsunami” que ecoou desde Wall Street e ganhou “colegas” no Japão e em quase toda a Europa. Esse nosso preparo para evitar crises está criando um cenário que antes era inacreditável como o de sermos convidados a auxiliar a economia européia.
O eco do 11/09/2001 talvez ainda esteja sendo ouvido. E, emocionalmente, não vai deixar de ecoar tão cedo. Mesmo com bin Laden morto, as ameaças do Al Qaeda são constantemente veiculadas. Diminuir essas ameaças implica em intervenções como na política do Oriente Médio, especificamente, na convivência dos palestinos com israelitas, e na questão do petróleo, ou de quanto pesa o “ouro negro”, especialmente em terras onde ele não aflora com suficiência.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" em 16/09/2011)
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