Há
39 anos, o dia 22 de dezembro marcou uma celebração na minha vida. Nesse dia,
acompanhada do pai, dos irmãos e do marido, fui receber meu diploma de concluinte
do Curso de Ciências Sociais (Licenciatura)/UFPA, no Ginásio de Esportes, ato
institucional realizado em conjunto com os/as alunos/as concluintes dos vários
cursos universitários.
Não
tive fotos para o registro. Lembro do vestido longo que tomei emprestado de uma
sobrinha. Era da cor da pele, de gaze, comprido, rebordado no corpinho. Senti
que eu realizaria um sonho de conquistar um título universitário que não estava
no script de muitas mulheres da minha geração cujo destino era casar-se e ter
filhos. E meu pai, naquela humildade tão assustadora para os dias de hoje
declinou de ser meu paraninfo dando a sua vez ao meu marido. Como todo o
interiorano de fala fácil ele argumentou: “o Pedro esteve estes anos ao seu
lado de estudante”. Eu aceitei, e o marido, em relutância, mas fomos à
celebração, às 16 h desse dia.
Rostos,
naquele mundo de colandos, não vi, salvo de alguns da minha turma. O orador
Alex Fiuza de Melo, escolhido para o ato, foi sorteado em meio aos demais
apresentados pelos outros cursos elegendo-se a Rose Salame. Ainda hoje guardo o
folheto com o nome de todos os universitários em suas turmas, paraninfos e
oradores, do ano de 1977.
Registros.
Saudade. Avaliação. Reavaliação da vida acadêmica que passei a exercer. A
Ciência Política, tendo como decano da matéria Amílcar Alves Tupiassu, foi
minha paixão, como até hoje.
Um
mundo novo surgiu então. Ministração de aulas no ensino da graduação. Tempo de
estudos com os colegas para a preparação dessas aulas sob a orientação do Amílcar
(que revisava conosco os temas os quais deveríamos tratar). Toda a quinta feira
a noite, após nossas aulas no campus, nos reuníamos em casa para repassar o que
sabíamos ou não, do programa das disciplinas, e o modo de transmitirmos, o que
usar, como usar. Eram seminários internos para preparação das aulas.
A
Antropologia nos faz criar os enredos etnográficos sobre o processo entre os
viveres e saberes. E desse procedimento aprendi a importância de entender como
conciliar um casamento, as crianças crescendo, outras nascendo, indo por ai o
calendário existencial.
Sobrevivi.
Aprendi na UFPA os inúmeros formatos e conhecimento de áreas temáticas, de
relacionamentos, de regras a considerar. E se o percurso foi exitoso em nível
pessoal caminhou com as mudanças para a inclusão relacional diversa. Desenvolvi
estudos sobre as teorias feministas pesquisando e examinando, inicialmente, a
situação das mulheres. E aqui quero registrar a linha do feminismo que assumi e
que favorece a inclusão de todos e todas, o qual chamei de feminismo para a
humanidade. Não somente para as mulheres, mas para estas e os demais gêneros e
etnias, procurando identificar de onde emergem as ideias que se impregnam como cultura
de hierarquia sexista que estão arraigadas nos corações (há pessoas com ódio
impregnado) e nas mentes (atitudes nefastas e, às vezes, camufladas perpetrando
embates que as vezes levam à morte). Quero dizer, esse feminismo para a
humanidade converge para conquistar outras pessoas com reconhecimento dos
direitos das mulheres, das raças, dos gêneros – dos direitos humanos. Assim,
nesse calendário que estou revisando hoje reafirmo o meu respeito por aqueles e
aquelas que em suas análises críticas respeitam os seres humanos favorecendo
assim, a melhoria da qualidade de vida de todos e todas. Que não se calam
diante das arbitrariedades cometidas pelos fundamentalismos homofóbicos e racistas.
Que criam espaços para subverter as culturas e práticas de violência contra as
mulheres, negros e os gêneros – espécies humanas que hoje são torturadas e
mortas em nome de uma sociedade que pode ser chamada de patriarcal racista contemporânea.
HOJE.
UMA DATA. UMA VIDA. UM PERCURSO. UM CALENDÁRIO DE EMOÇÕES E AFETOS.
UM
ABRAÇO AS/AOS MEUS COLEGAS DE TURMA! UM ABRAÇO AOS NOSSOS PROFESSORES!
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